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É certo reprovar estudantes em 2020? ou aprová-los automaticamente?

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Em Santa Catarina será organizado um painel com o histórico de cada um dos estudantes.

Nem todos os alunos tiveram acesso ao ensino remoto no período de suspensão das aulas presenciais. Especialmente nas famílias mais pobres, problemas de conexão à internet, por exemplo, impediram que crianças e jovens acompanhassem atividades on-line durante a pandemia.

Diante da desigualdade no acesso à educação, é certo reprovar estudantes em 2020? 

Se todos forem aprovados automaticamente, como lidar com as lacunas deixadas por meses sem contato com os professores?

Há, ainda, a preocupação com os alunos do 3º ano do ensino médio. Caso sejam retidos, podem desistir da escola para ingressar no mercado de trabalho.

Por outro lado, se forem aprovados, não terão o ano letivo de 2021 para recuperar conteúdos que deveriam ter sido ensinados em 2020.

Em parecer do Conselho Nacional da Educação (CNE), órgão do MEC, a recomendação é rever os métodos de avaliação e adotar medidas que “minimizem a retenção escolar”, já que “os estudantes não podem ser mais penalizados ainda no pós-pandemia”.

É especificado, no entanto, que a decisão deve ser tomada por cada escola ou rede de ensino, tanto pública, quanto particular.

Abaixo, veja os diferentes posicionamentos de especialistas em educação, pedagogos, secretários de redes estaduais e coordenadores de colégios particulares do país. São cinco sugestões:

  • aprovar todos os estudantes;
  • permitir a reprovação apenas nas escolas particulares, onde houve acesso ao ensino remoto;
  • cancelar o ano letivo das escolas públicas e reprovar todos os seus alunos, para dar oportunidade de aprenderem de fato em 2021;
  • juntar os anos letivos de 2020 e 2021, pensando em reprovação só no fim do biênio;
  • avaliar cada caso individualmente.
“Reprovação? Nem pensar. É uma situação inusitada, seria muito injusto. Fechamos as escolas em março, no começo do ano letivo – não houve nem tempo de conhecer os alunos. Como vou avaliar o que aprenderam?”, questiona uma professora de Assis, no estado de São Paulo.
“Alguns sequer tinham computador ou internet. E, mesmo em escolas particulares, não acho certo reprovar. Foi um período muito diferente para alunos e professores.”

“Ninguém deve ser reprovado durante a pandemia. É inadequado, irresponsável. Não temos a menor possibilidade de ver quais as condições da criança ou do jovem em casa”, diz Marcia Sigrist Malavasi, docente da Faculdade de Educação da Unicamp.

Coordenadores e diretores de escolas privadas defendem que seus alunos têm condições financeiras privilegiadas, que lhes permitem acompanhar o ensino remoto sem dificuldade.

Portanto, caso não atinjam o desempenho esperado, podem, sim, ser reprovados na visão das instituições particulares.

 Reprovação só para casos específicos

Vitor Balthazar, secretário adjunto de educação na rede estadual de Santa Catarina, diz que a rede se estruturou para oferecer aos estudantes a possibilidade de estudar remotamente – seja por plataformas on-line ou por materiais impressos. Ainda assim, cerca de 3% dos alunos não foram atendidos.

Para decidir quem será aprovado no fim do ano, será organizado um painel com o histórico de cada um dos mais de 525 mil estudantes da rede, afirma a secretaria.

Serão retidos, segundo Balthazar, apenas aqueles que não participaram das aulas por opção, não por dificuldade. “Ainda assim, se isso ocorrer, vai ser uma exceção. Nossa prioridade é garantir o aprendizado”, diz.

Para Ivan Gontijo, coordenador de projetos do Todos Pela Educação, os prejuízos do fechamento das escolas não serão reparados em apenas um ou dois anos.

“Alguns alunos conseguiram se adaptar, mas a maioria teve dificuldade. Nossa proposta é reprovar todos os estudantes mais pobres, uma espécie de reprovação automática nas escolas públicas. É um jeito de recuperar o tempo perdido, sem deixar ninguém para trás ou aumentar a desigualdade”, afirma.

“A solução de aprovar todo mundo é complicada. Existem direitos de aprendizagem. Você não pode aprovar uma criança que não aprendeu nada. O ano letivo teria de ser cancelado.”

O que fazer no 3º ano do ensino médio?

A discussão sobre reprovação é diferente para o último ano da educação básica. Reter o aluno que já conseguiria o diploma do ensino médio pode afastá-lo da escola. 

Por outro lado, não propiciar o acesso às aulas pode prejudicar o estudante que quer ser aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou nos vestibulares. O que fazer, então?

O Conselho Nacional da Educação deixa a decisão para escolas e redes de ensino.

O coordenador de projetos do Todos Pela Educação defende uma reprovação automática para todos os estudantes mais pobres das escolas públicas. Outros professores afirmam que seria muito injusto.