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O que diria um extraterrestre se aterrissasse na terra nos últimos dias?

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O que parecia uma história exótica de uma região da China ganhou, de forma silenciosa e invisível, o resto do mundo.

Enquanto os profissionais da saúde lutam pelas vidas dos doentes e os pesquisadores correm contra o relógio atrás da vacina, os dirigentes enfrentam o diabólico dilema entre a preservação da saúde pública e a sobrevivência da economia.

É preciso encontrar um equilíbrio entre o sanitário, que é imediato, e a necessidade de que a sociedade continue funcionando: continuar alimentando as pessoas e que não haja uma falência econômica. Não há fórmula simples. A política consiste em conciliar dimensões contraditórias.

A INCERTEZA

O planeta terra, para um extraterrestre que aterrissasse nos últimos dias, ofereceria uma imagem estranha: —Cadê os humanos?

Mais de um terço da humanidade está em casa, privada da liberdade de ir e vir, algo tão essencial e que todos nós damos como garantido.
As ruas vazias, como as estradas sem carros. Os céus claros, sem aviões. As fronteiras, fechadas. Os líderes? Administrando, como podem, a maior crise que certamente lhes caberá enfrentar em suas vidas. 
Os cidadãos? Desconcertados pelo vírus que foi detectado na China em dezembro passado e que já matou mais de 28.900 pessoas, afetando 200 países. 
Angustiados por sua saúde e a de seus próximos, e pelo golpe econômico que, segundo a unanimidade dos especialistas, se avizinha. O mundo entrou em hibernação.

O eletrochoque deixou os humanos aturdidos, num estado que mistura a calma, com o desassossego, sem espaço físico para se movimentar nem espaço mental para saber como será a vida, a cidade, o país, o mundo em dois ou três meses, ou em um ano. 

Os Governos assumem que o freio na atividade provocará uma recessão global. 
 A história congelou-se. Nunca a humanidade estancou tão de repente. Nunca se tinha visto uma decisão coletiva semelhante, embora não coordenada: cada país está se confinando no seu ritmo.
Não houve longas discussões parlamentares nem tampouco pressão social antes que fosse decretada aquela que é, talvez, a decisão mais relevante deste século: o isolamento social.
A pressão que conduziu ao fechamento das fronteiras e à clausura dos cidadãos não era a dos eleitores, e sim a da locomotiva sem freios que, temia-se, acabaria por causar centenas de milhares ou milhões de mortes.

Esta é uma pandemia, pela primeira vez na história, em que o mundo está conectado tecnologicamente e onde os mercados financeiros estão interconectados.

O mundo hiberna.

Quanto mais durarem os confinamentos, mais probabilidades de atenuar a pandemia e menos de evitar a depressão econômica: este é um dos debates. 

Ao erguer novas fronteiras e responsabilizar a globalização pela propagação da epidemia, poderia ser o caso de que o populismo e o nacionalismo saiam fortalecidos. Não está tão claro. 
Porque o medo —neste caso, a uma ameaça real, não imaginária— reforça a confiança nos cientistas e médicos: não é hora de experimentos nem de soluções fáceis.

Tudo é incerto por enquanto. A história, e o final dela, é incerto.

 Hoje o protagonista da história não é um grande homem ou mulher —um líder, um herói, um ditador— nem a luta de classes.

É o vírus invisível, que assusta e ao mesmo tempo unifica e divide a humanidade. Na verdade, o coronavírus só é invisível para quem não quer vê-lo.

*Texto extraído de artigo publicado pelo jornalista francês Marc Bassets, do jornal El País.