Leia, na íntegra, documento emitido hoje, 02/01/2017, pelo HEMOSC.
A essencialidade de transfusões de sangue e a natureza estruturante da atividade hemoterápica, apesar de seu alto custo, ainda constituem-se num imperativo de saúde pública.
Ressaltamos que em 2013 encaminhamos um documento para Secretaria de Estado da Saúde – Plano Diretor de Sangue, em que colocamos que não necessitávamos de mais nenhum hemocentro em nosso Estado, a despeito das diversas solicitações recebidas e que o investimento do estado deveria se voltar para a implantação de algumas agências transfusionais, garantido uma melhor e mais adequada distribuição de sangue no estado, em virtudes de grandes vazios existentes neste nível de complexidade.
Igualmente encaminhamos vários documentos que não recomendavam a implementação de inúmeras Unidades de Coleta solicitadas por vários municípios, baseados em critérios técnicos e que demonstravam a baixa relação custo versus efetividade destas implantações.
A rede hoje é composta por três Unidades de Coleta, uma delas localizada no município de Canoinhas. Infelizmente desde a implantação desta unidade, ocorrida em 05 de janeiro de 2009, as perspectivas de atendimento às metas propostas foram frustras, apesar da boa acolhida por parte da população.
A microrregião de Canoinhas é composta por 12 municípios, tendo uma população de 243.782 habitantes e o município de Canoinhas 52.765 segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2010), com uma densidade demográfica de 26 habitantes/ km².
De acordo com a Portaria 1631 de outubro de 2015, que aprova critérios e parâmetros para o planejamento e programação de ações e serviços de saúde no âmbito do SUS, a recomendação para atendimento das necessidades assistenciais relativas a serviço de hemoterapia da microrregião de Canoinhas consiste apenas na realização de Coletas Externas para captação de sangue e não na implantação ou manutenção de uma Unidade de Coleta, e a instalação de Agência Transfusional. Com base nos parâmetros da portaria supracitada, a microrregião atinge um escore de 8 (oito) e pode ser acompanhado nas tabelas 1 e 2 dispostas abaixo.
TABELA 1 – PARÂMETROS PARA AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA DOS SERVIÇOS DE HH
Outro parâmetro a ser observado para implantação de novos serviços ou mesmo a manutenção da estrutura atual da Hemorrede é a garantia de uma produção mínima para que se justifique o investimento de recursos (Portaria 1631/2015, Diretrizes da Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados/Ministério da Saúde e Recomendações da Organização Mundial de Saúde).
Analisando o número de bolsas coletadas no decorrer dos anos na unidade de Canoinhas, desde sua abertura em 2009, observamos que o mesmo tem se mantido, mostrando uma pequena variação no ano de 2011, muito provavelmente devido aos inúmeros pedidos e orientações do Hemocentro Coordenador para que se otimizasse a utilização da estrutura disponível, conforme apresentado na planilha 1 – Número de doações na unidade de coleta de Canoinhas.
Para cálculo da capacidade operacional dos serviços de hemoterapia utiliza-se o parâmetro de 03 (três) coletas por cadeira de doação por hora, multiplica-se este número pelo número de horas que o serviço funciona e se multiplica pelo número de dias de funcionamento do serviço.
Considera-se que para um serviço não ser caracterizado como deficitário (custo x efetividade), o número mínimo de coletas no mês é de 400 bolsas, onde percebe-se também que em nenhum mês houve essa coleta mínima na Unidade de Coleta de Canoinhas.
Outro fator que nos compele a sugerir o fechamento da referida unidade é o índice de aproveitamento das bolsas coletadas não ser tecnicamente satisfatório, decorrente do tempo entre a coleta da bolsa em Canoinhas e o processamento em Joaçaba, impossibilitando a produção de concentrado de plaquetas, gerando somente concentrado de hemácias e plasma comum.
Este tempo e índice de aproveitamento é fortemente influenciado pela dificuldade de transporte de bolsas e amostras na região.
A Unidade de Coleta de Canoinhas está situada em espaço cedido pelo Hospital Santa Cruz, o qual se manteve parceiro ao logo dos anos.
Cabe ressaltar ainda que, atualmente, a Unidade de Coleta de Canoinhas não possui os alvarás sanitário, de funcionamento e do corpo de bombeiros, pois a liberação destes pelo órgãos competentes está vinculada diretamente a readequações da estrutura física e a aprovação na Vigilância Sanitária do projeto arquitetônico da referida unidade. Igualmente, e consequência da ausência das documentações citadas não há registro no CREMESC do responsável técnico, estando assim a unidade irregular no aspecto documental.
Enfrentamos também, dificuldade de manutenção da cobertura médica Unidade durante todo o horário de coleta após a aposentadoria do médico responsável e tentativa frustrada de contratação.
Os fatos apontam, portanto, para o encerramento das atividades da Unidade de Coleta de Canoinhas, a partir de 02 de janeiro de 2017, estando autorizado pela Secretaria de Estado da Saúde por meio do Contrato de Gestão 01/2016 do HEMOSC publicado em 28/11/2016.
O quantitativo diário coletado em Canoinhas será compensado nas demais estruturas da Hemorrede, se necessário, de modo que o fechamento da Unidade não impacte nos estoques de sangue.
Sabemos, contudo, da necessidade de se manter o atendimento daquela região e das ações que estimulem a doação de sangue.
Colocamos, portanto, ambos serviços à disposição da Associação dos Doadores de Canoinhas – a ADOSAREC, a quem rendemos homenagens ao trabalho realizado, e dos demais doadores do município de Canoinhas e região, pois sabemos da importância de se manter a comunidade parceira e da necessidade de se facilitar o acesso do doador aos serviços, uma vez que dependemos todos, destes indivíduos solidários que nos procuram e garantem com seu ato, a possibilidade dos demais atendimentos de saúde do Estado.