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Em13 de agosto de 1959 um tufão destruía a localidade de Rio dos Pardos, interior de Canoinhas

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*Publicado originalmente em agosto de 2017

13 de agosto de 1959. Era “boca da noite”, como diziam os mais antigos. A noite se anunciava com trovões ameaçadores.
O Sr. Romão Niedzelski (in memorian), morador da localidade de Barra Mansa, interior de Canoinhas, fumava seu “pairerinho” na varanda de sua casa e observava o céu:

—Véia! Ina! Venham cá ver uma coisa, parece fim do mundo. Mulher e filha foram observar o que era.
Ludovina Niedzelski, a Ina, hoje com 75 anos, é que nos conta essa lembrança. Na época com 17 anos, ela conta o que relembra.

Ao observar o céu, diz que estava muito vermelho, lá “pro lado dos Pardo”. “Parecia fogo no céu, era muito raio e relâmpago, sem parar. Muito mesmo. E ouvia-se uma zuada que dava medo”.

A localidade de Rio dos Pardos dista cerca de 15 km do local. Receosos de aquele temporal viesse para seu lado, ‘se’ Romão e a família recolheram-se.

No dia seguinte, logo cedo, acordaram com palmas. Era os irmãos da família Iendras. Traziam notícias da tragédia.

Foto de 1959, logo após o tufão. Imagem: Jornal Correio do Norte

Os irmão vinham de Canoinhas, onde tinham ido descarregar madeira, e na volta depararam-se com o acontecido em Rio dos Pardos. No caminho, paravam para avisar os moradores. A localidadade havia sido devastada. Mortes e muitos feridos. Nada havia sobrado.

Dois dias depois, 15 de agosto, dia da Anunciação de Nossa Senhora, na época dia santo de guarda, o Sr. Pedro Vipieski (in memorian), único da localidade que possuia um \’caminhão Studebaker\’, levou na carroceria quem quisesse ir ver a devastação.

Dona Ludovina conta o que viu:

A primeira coisa que eu vi, foi uma tombeira da DER virada. Depois as casas destruídas, só restou os assoalhos.

No lugar onde era o armazém Reinert, não tinha nada. No armazém vendia-se fogão a lenha e peças de tecidos, que foram encontrados a quilômetros dali”.

Um cavalo estava morto, com um pedaço de madeira atravessado. Uma porca também estava morta e os leitãozinhos tentando mamar. Lembro como se fosse hoje. De pessoas não tinha mais ninguém, já haviam levado os mortos e os que ficaram feridos.

 

“Na igrejinha, como para lembrar que devemos ter fé, ficou um pequeno altar de pedra com a imagem de Nossa Senhora”, relembra emocionada.

“Parecia fogo no céu”, relembra dona Ludovina, hoje com 75 anos. Foto: Arquivo pessoal
 
 

Relato de um sobrevivente:

Naquela quinta-feira 13, Pedro Reinert vinha de ônibus do centro quando decidiu pernoitar na casa do irmão e seguir a pé até sua casa no Timbózinho no dia seguinte.

A noite se anunciava com trovões ameaçadores, dando a chuva como certa. Ao invés da chuva, no entanto, veio um tufão. Bastou um estouro e tudo virou gritos e escuridão.


Pedro só teve tempo de se jogar debaixo de um fogão à lenha. “Senti tipo de um arrebento, estralo de vidraça, só vi o telhado arrebentando em cima de mim, fiz o sinal da cruz e comecei a rezar, mas apaguei”.

Ao acordar, pouco depois, Pedro achou que estava sonhando. Ouvia muitos gritos.“Então vi um vulto vindo em minha direção. Pedi para ter cuidado para não pisar em mim”.

A realidade foi tão chocante quanto o falso sonho. Ao lado de Pedro, o irmão Urbano dava os últimos gemidos. Ao vê-lo morrer, veio o lamento: “Meu Deus, porque não morri eu, ele cheio de filhos para criar”.

O vulto ganhou voz e atalhou a fala de Pedro. “Não diga isso, ele, a mulher e os filhos tão tudo morto”, disse o vizinho conhecido como Jordão, que havia se livrado da fúria do tufão porque estava em um boteco.   Nota: Pedro Jacob Reinert faleceu em dezembro de 2015, aos 82 anos.

Solidariedade

No dia 14, várias entidades sociais se mobilizaram para ajudar a reconstruir Rio dos Pardos e consolar as famílias que choravam seus mortos.

A Câmara de Vereadores liberou 100 mil cruzeiros.As Pioneiras Sociais de SC doaram 50 mil cruzeiros. Uma Comissão de Auxílio aos Necessitados foi formada.

O governador de SC, Heriberto Hülse, mandou representantes aos funerais das vítimas e enviou 300 mil cruzeiros para a reconstrução das casas.

Até o Papa João 23 se pronunciou sobre a tragédia. “Augusto pontífice concede todo povo particularmente crianças doentes conforto Bênção Apostólica”, dizia o telegrama enviado pelo Papa ao Brasil. O Vaticano enviou doação de 50 mil cruzeiros para as vítimas. Canoinhas ficou com 25 mil e Lages com o restante.

O tufão que arrasou Rio dos Pardos é considerado a segunda maior tragédia climática da história de Canoinhas.
A primeira tinha passado por Valinhos pouco mais de 11 anos antes, quando um tornado matou 23 pessoas da localidade canoinhense.

Leia também: Depoimento inédito de quem sobreviveu a essa tragédia. Irene Paul conta o que foi a passagem do tufão na localidade de Rio dos Pardos, em agosto de 1959